quinta-feira, 10 de maio de 2012

CUIDADOS PALIATIVOS EM TERAPIA INTENSIVA


PÓS-GRADUANDO DR. PAULO DE TARSO MAGALHÃES

A partir do século XX, o poder de intervenção do médico cresceu enormemente, sem que ocorresse simultaneamente uma reflexão sobre o impacto dessa nova realidade na qualidade de vida dos enfermos. Aspectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento de um doente terminal em seu lar, levaram à morte institucionalizada.
A irreversibilidade da doença é definida de forma consensual pela equipe médica, baseada em dados objetivos e subjetivos. Estabelecido este diagnóstico, os cuidados paliativos constituem o objetivo principal da assistência ao paciente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cuidados paliativos são as ações ativas e integrais prestadas a pacientes com doença progressiva e irreversível, e a seus familiares. Nesses cuidados é fundamental o controle da dor e demais sintomas mediante a prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual.
Desse modo, cuidados prestados ao paciente crítico em estado terminal, quando a cura é inatingível e, portanto deixa de ser o foco da assistência. Nesta situação, o objetivo primário é o bem estar do paciente, permitindo-lhe uma morte digna e tranquila. A priorização dos cuidados paliativos e a identificação de medidas fúteis devem ser estabelecidas de forma consensual pela equipe multiprofissional em consonância com o paciente (se capaz), seus familiares ou seu representante legal.
Após definidas, as ações paliativas, devem ser registradas de forma clara no prontuário do paciente. Durante o tratamento de um paciente terminal muitas das medidas curativas/restaurativas, podem configurar tratamento fútil, tais como: nutrição parenteral ou enteral, administração de drogas vasoativas, terapia renal substitutiva, instituição ou manutenção de ventilação mecânica invasiva e, inclusive, a internação ou permanência do paciente na UTI.
Caso venha a existir conflito durante a tomada de decisão de um tratamento paliativo, sugere-se que as chefias da UTI levem o fato ao conhecimento da direção da instituição para que esta, através de seus instrumentos (Comissão de Ética, Bioética, etc) viabilize a intermediação necessária.

Princípios fundamentais dos cuidados paliativos nas unidades de terapia intensiva

-Aceitar a morte como um processo natural do fim da vida;
-Priorizar sempre o melhor interesse do paciente;
-Repudiar futilidades: diagnóstica e terapêutica;
-Não encurtar a vida nem prolongar o processo da morte;
-Garantir a qualidade da vida e do morrer;
-Aliviar a dor e outros sintomas associados;
-Cuidar dos aspectos clínicos, psicológicos, sociais, espirituais dos pacientes e de seus familiares;
-Respeitar a autonomia do doente e seus representantes legais;
-Avaliar o custo-benefício a cada atitude médica assumida;
-Estimular a interdisciplinaridade como prática assistencial.

Certamente a filosofia dos cuidados paliativos visa unicamente o bem estar do paciente vítima de doença terminal. Entretanto, ainda não existe definição legal no Brasil, no que concerne a mudança do enfoque terapêutico, de curativo para paliativo. Existem discussões no âmbito jurídico a esse respeito, com interpretações bivalentes. Em defesa da morte no seu tempo certo se destaca o parecer de Diaulas Costa Ribeiro, “suspensão de esforço terapêutico tem suporte na Constituição, que reconhece a dignidade da pessoa humana como fundamento do estado”.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1- MORITZ, Rachel Duarte et al. Terminalidade e cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2008; 20(4): 422-428.

2- Bittencourt AGV, Dantas MP, Neves FBCS, Almeida AM, Melo RMV, Albuquerque LC, et al. Condutas de limitação terapêutica em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2007;19(2):137-43.

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