A IMPORTANCIA DA FISIOTERAPIA INTENSIVA NA FUNDAÇÃO DE CONTROLE DE ONCOLOGIA DO AMAZONAS – FCECON.
A incidência de câncer vem aumentando em todo o Brasil. É comprovado ser a segunda principal causa de óbito, precedido apenas por doenças cardiovasculares. No Amazonas, em 2010, estima-se que o número de novos casos de câncer em homens seja de 2.190 no Estado, sendo 1.630 na capital; Entre as mulheres esse valor se sobrepõe, com 2.590 no Estado, sendo 2.060 na capital. ¹
Quando pensamos no paciente instalado na unidade de terapia intensiva (UTI), presumimos que ele apresente um alto potencial de gravidade e instabilidade hemodinâmica, necessitando, portanto, ser monitorado continuamente. Entende-se por paciente com potencial de gravidade aquele que apresenta homeostasia comprometida, devido à deficiência em qualquer dos grandes sistemas e por instabilidade hemodinâmica pacientes com disfunções no sistema cardiorrespiratório.
Tratando-se de paciente oncológico a severidade é a mesma, porém, os pacientes trazem particularidades específicas. Devido a terapias adjuvantes, como a radioterapia, quimioterapia e, em alguns casos, consecutivas intervenções cirúrgicas e grande tempo de internação hospitalar, estes indivíduos podem apresentar também comprometimento osteomioarticular, além de disfunções mielossupressivas e propensão a comprometimentos respiratórios, de acordo com o local e estágio da doença; “Os pacientes cirúrgicos, especialmente aqueles submetidos a cirurgia com intenção curativa, reconhecidamente tem melhor prognósticos quando comparados a pacientes clínicos e o benefício da internação na UTI é indiscutível.” ²
Na Fundação de Controle de Oncologia do Amazonas é seguido um protocolo, onde a admissão do paciente na UTI é conduzida pelo médico, enfermeiro e fisioterapeuta, sendo o último responsável pelo suporte ventilatório inicial, através da instalação dos equipamentos de oxigenoterapia ou ventilação mecânica (VM).
A avaliação da fisioterapia observa aspectos neurológicos, osteomioarticular, cardiovascular e respiratório. A anamnese é direcionada focada na história da neoplasia e a conduta direcionada de acordo com a queixa principal e alterações observadas. Tratando-se de paciente com neoplasia é importante estar atendo aos exames laboratoriais diariamente, estes pacientes são instáveis e uma conduta errada pode induzir a novas lesões ou mesmo ao óbito.
A fisioterapia intensiva deve ser inserida tanto na fase terapêutica quanto na preventiva. Sabe-se que a partir de uma semana de internação já se pode notar alterações teciduais como: fraqueza muscular e hipotrofia. A restrição ao leito, quimioterapia, radioterapia e metástases ósseas podem gerar osteopenia e osteoporose, podendo ocasionar fraturas patológicas. A Fisioterapia intensiva, em substituição à Fisioterapia motora convencional, se baseia em exercícios de alongamento passivos, ativos livres, isométricos, resistência moderada, atividades com descarga de peso como deambulação e ciclismo, dentre outros. Como já pré-citado a fisioterapia motora é realizada de acordo com o resultado dos exames laboratoriais, tendo por valores de referência as plaquetas entre 150.000 – 450.000, hematócrito entre 37 - 47 e hemoglobina entre 12 - 18.
As complicações respiratórias são comuns no paciente neoplásico, devido a mielossupressão e a Fisioterapia Intensiva tem importante atuação na sobrevida desse paciente. A conduta é diferenciada de acordo com o quadro e necessidade do paciente. Um paciente sob oxigenoterapia ou sendo pós-operatório de intenção curativa, infere à fisioterapia intensiva cuidados preventivos. Enquanto que um paciente agudo, crônico, com patologia de base revertida, prognóstico sombrio ou sob VM a conduta necessita ser terapêutica.
A Fisioterapia intensiva consiste em técnicas manuais, posturais e cinéticas que também podem ser associadas aos recursos do VM. Os tipos de manobras respiratórias mais utilizadas são as desobstrutivas e reexpansivas. Entre as manobras de Fisioterapia Respiratória convencionais temos a drenagem postural, percussão torácica, vibração torácica, compressão torácica, exercícios respiratórios, aspiração endotraqueal e a tosse, além de outras menos convencionais como hiperinsuflação manual e a pressão negativa que também têm a função de mobilizar e remover secreções. É importante lembrar que nos pacientes oncológicos, deve-se respeitar os valores das plaquetas, coagulograma e limiar da dor. Há como contra-indicação a realização de manobras de FR quando o paciente apresentar metástase óssea, pois existe o risco de ocasionar fratura de gradil costal devido à presença de osteoporose, todavia, a presença de metástase pulmonar não contra-indica a realização de diversas técnicas de higiene brônquica e de reexpansão pulmonar.
Nosso serviço faz uso do VM tipo Dixtal e tem pré-estabelecido o parâmetro de recepção do paciente agudo, adotando: modo controlado, com FiO2 de 100%, tempo inspiratório 1:2, relação I:E de 1:2,5, freqüência respiratória de 14irpm, pressão controlada de 20, PEEP= 5, sensibilidade 2. “No suporte ventilatório, o fisioterapeuta auxilia na condução da ventilação mecânica (VM), desde o preparo e ajuste do ventilador artificial à intubação, evolução do paciente durante a VM, interrupção e desmame do suporte ventilatório e extubação.” ³
O desmame é um grande desafio para médicos e fisioterapeutas, sendo possível quando a patologia de base é revertida, houver força e resistência de musculatura inspiratória e já não existir complicação respiratória instalada.
Também atuamos na dor do paciente oncológico, utilizando recursos como termoterapia, crioterapia, massagem e incentivo à prática de exercícios.
A fisioterapia na FCECON atua em vários segmentos e tem por objetivo prevenir e tratar complicações respiratórias e motoras, diminuir quadro álgico, atender pacientes críticos sob suporte ventilatório (ventilação mecânica não invasiva e ventilação mecânica invasiva) e melhorar qualidade de vida dos pacientes, diminuir o tempo de internação/custos e devolver o paciente as atividades de vida diária.
Especializanda da SOBRATI - Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva/Manaus - Patricia Chagas Lima
Orientador: Prof. MSc. Daniel Xavier
1. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa de 2010, Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: www.inca.gov.br/estimativa/2010/index.asp?link=tabelaestados.asp&UF=AM.
2. Artigo: Políticas de Admissão de Pacientes Oncológicos na UTI: Hora de rever os conceitos. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbti/v18n3/v18n3a01.pdf.
3. III Consenso Brasileiro de Ventilação mecânica. Capítulo 10: Fisioterapia no Paciente sob Ventilação Mecânica.
4. SCANLAN, Graig L. Fundamentos da Terapia Respiratória de Egan. 7º edição, editora Manole.
5. KNOBEL, Elias. Condutas no paciente grave. São Paulo, Editora Atheneu, 1996.
6. XAVIER, Daniel S. Fisioterapia oncológica para a graduação, 2010.