quinta-feira, 1 de março de 2012

AVALIAÇÃO DA PRESSÃO INTRA-CUFF EM PACIENTES NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DA FCECON

RESUMO


A avaliação da mensuração intra-cuff é necessária para se verificar o nível de pressão existente no balonete, no qual é encontrado nas extremidades distais das cânulas endotraqueais e de traqueostomia. Sendo então, importante para minimizar os efeitos deletérios advindos da exacerbação do nível pressórico interno ou pelo nível pressórico abaixo do normal. Para entendermos melhor todo o mecanismo é necessária a utilização de um dispositivo que permita a verificação da pressão. Este dispositivo, tal qual conhecido como Cuffômetro nos permite em tempo real observar o nível de pressão. Estabelecendo-se o seu uso rotineiramente nas unidades de terapia intensiva a maiores chances de se evitar a pneumonia associada à ventilação mecânica.
PALAVRAS CHAVES: pressão, cuff, cuffometria, ventilação mecânica, pneumonia


INTRODUÇÃO


Comumente se encontra em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pacientes sob ventilação mecânica (VM) com o objetivo de manter a ventilação pulmonar adequada através de uma prótese traqueal artificial, sendo as mais comuns as endotraqueais e as cânulas de traqueostomia (Aranha¹). Estes tipos de próteses possuem na sua parte distal como característica um balonete, também chamado de “cuff” que por definição é um manguito preenchido por ar localizado ao redor da traqueostomia ou tubo orotraqueal que se encaixa no interior da traquéia. Estima-se que valores entre 20 a 30 cmH2O são considerados seguros para evitar lesões. Entretanto, quando hiperinsuflado pode ocasionar o edema celular, perda de cílios e descamação do epitélio e quando a pressão for insuficiente aumenta o risco de broncoaspiração de secreções, podendo levar as infecções pulmonares (Juliano²), tais quais: a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV). Justificativa: a mucosa traqueal recebe diretamente a pressão transmitida pelo cuff e para evitar lesões é necessário observar o grau de pressão transmitido do cuff para a parede da traquéia. Objetivo: demonstrar que através da implantação da rotina de mensuração da pressão intra-cuff, obtém-se controle fidedigno para manter as medidas dentro dos parâmetros considerados seguros, evitando assim, um maior tempo de internação, menor custo com materiais e medicamentos e atenuação das complicações de morbidade e mortalidade.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado um estudo prospectivo e descritivo das mensurações da pressão do cuff, verificando-se o percentual de inadequação na UTI adulto da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON). As medidas foram coletadas no período matutino e quando necessário ajustadas a 25 cmH2O.
Para obtenção da pressão do cuff, utilizou-se o aparelho específico denominado Cuffômetro, marca VBM, modelo CE 0123, com graduação de 0 a 120 cmH2O (Fig.: 1) que obtêm as pressões do balonete sendo um método simples, seguro e rápido para a medição e calibração da pressão do cuff. A pesquisa foi realizada através da mensuração do cuff (Fig.: 2) em dois pacientes (paciente 1 e paciente 2), com registro e tabulação dos dados inerentes às pressões.







RESULTADOS E DISCUSSÕES


Através da coleta dos dados foram obtidos os seguintes resultados:


Gráfico 1: níveis de pressão intra-cuff
Fonte: Arquivos do pesquisador.



O Gráfico 1 demonstra os valores pressóricos intra-cuff obtidos pós mensuração por cuffomêtro dos pacientes durante 7 dias sob VM. Evidenciando uma notória discrepância ao considerar o valor obtido com o valor predito de normalidade para pressão intra-cuff.
Ao analisar o paciente 1 conforme demonstrado no gráfico 1, observa-se uma constante variação pressórica variando de menor valor em 10 cmH2O e em maior valor 45 cmH2O e obtendo como média pressórica 19,57 cmH2O. Já o paciente 2 apresenta uma variação pressórica de 12 cmH2O em menor valor e 45 cmH2O em maior valor, adquirindo como média pressórica 23,71 cmH2O. É válido também observar que ambos os casos obtiveram medidas aquém do esperado, sobressaindo-se os valores abaixo do nível esperado, onde somente o terceiro dia e o paciente 2 no quarto dia se enquadrou nos valores normais.
Conforme Juliano², esses valores não devem ultrapassar 20 e 30 cmH2O e durante a (VM), a pressão do cuff deve ser baixa o suficiente para permitir a perfusão da mucosa e alta o suficiente para prevenir o vazamento de ar e impedir a aspiração das secreções. Pressões superiores a 30 cmH2O podem gerar lesões na parede da traquéia dificultando o desmame ou decanulação e pressões menores que 20 cmH2O podem levar a broncoaspiração.
Para Haringer³, o esforço a ser feito para evitar a aspiração de bactérias da orofaringe ao redor do cuff é manter a pressão do cuff em pelo menos 20 cmH2O e afirma que é um dos fatores de riscos modificáveis para se evitar a PAV.
Morris4 conclui que a maneira de evitar ou minimizar futuras lesões é a insuflação do cuff com pressão mínima, sendo suficiente para vedar a traquéia e não permitir o escape de ar durante a ventilação, contudo, é importante não ultrapassar os valores preditos e/ou respeitar a pressão de 25 cmH2O, o qual é valor limite da perfusão da mucosa traqueal.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



A participação e a conscientização da equipe médica na observação dos níveis pressóricos são importantes para evitar ou minimizar os possíveis efeitos deletérios do cuff que podem variar de um edema traqueal até uma PAV. Diminuindo assim, os custos e os dias de internação, a medicação, a morbidade e a mortalidade.
Sugere-se a necessidade da vigilância das pressões do balonete através da implantação de uma rotina de mensuração, como meio profilático.



REFERÊNCIA



1. Aranha AGA, Forte V, Perfeito JAJ, Leão LEV, Imaeda CJ, Juliano Y. Estudo das pressões no interior dos balonetes de tubos traqueais. Rev Bras Anestesiol. 2003; 53(6):728-36.
2. Juliano SRR, Juliano MCR, Cividanes JP, Houly JGS, Gebara OCE, Cividanes GVL, Catão EC. Medidas dos níveis de pressão do balonete em unidade de terapia intensiva: considerações sobre os benefícios do treinamento. Rev Bras Ter Intensiva. 2007;19(3):317-21.
3. Hariger, Deborah Motta de Carvalho. Pneumonia associada à ventilação mecânica. Pulmão RJ 2009; Supl 2:S37-S45.
4. Morris LG, Zoumalan RA, Roccaforte JD, Amin MR. Monitoring tracheal tube cuf pressures in the intensive care unit: a comparison of digital palpation and manometry. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2007;116(9):639-42.


Escrito por Helena Nogueira.

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