domingo, 13 de fevereiro de 2011

DOENÇA DE CHAGAS


SEMINÁRIO DE DISFUNÇÕES CARDÍACAS NO AUDITÓRIO  DA FCECON

     A doença de Chagas, já detectada em múmias andinas em 4000 a.C., se expandiu no final do século XIX, vindo a atingir seu pico em meados do século XX.  Em 1909, Carlos Chagas, médico brasileiro e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, descobriu o parasita causador dessa doença infecciosa, que acometia operários do interior de Minas Gerais, que foi denominada em sua homenagem, por ter sido ele quem a descreveu pela primeira vez.
     A doença de Chagas prevalece do sul dos Estados Unidos até a Patagônia, colocando sob risco milhões de pessoas dos países americanos e afetando grande parte de indivíduos. É a enfermidade humana mais relacionada com o subdesenvolvimento, o que torna mais crítica a situação de milhões de pacientes chagásicos.
     Trata-se de uma infecção causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi, um inseto sugador de sangue que tem parte de seu ciclo vital na subfamília dos triatomíneos, vulgarmente conhecido como “barbeiro”. A transmissão pode também ser causada de homem a homem, através de transfusão de sangue, por via placentária, por transplantes de órgãos, por acidentes em laboratório e por outras vias excepcionais, como a oral.
      A doença humana transcorre numa fase inicial aguda, caracterizada por febre, muitos parasitas circulantes e poucas semanas de duração, seguindo-se uma fase crônica, afebril, com poucos parasitas no sangue e causadora de importantes alterações cardíacas em cerca de 20 a 30% dos casos e digestivas (com danos principalmente no esôfago e intestino grosso) em aproximadamente 10% dos pacientes (dados do Ministério da Saúde/Fundação Oswaldo Cruz).
     A fase aguda da doença de Chagas se estabelece após a contaminação pelo meio de transmissão causador, e apesar da elevada parasitemia, na maioria das vezes, essa fase passa despercebida, sem apresentar sintomas. Quando existentes, os sintomas aparecem de 4 a 12 dias após a infecção pelo parasita e são chamados de sinais de porta de entrada. Dentre eles, verifica-se o chagona de inoculação, o sinal de Romana, caracterizado por edema bipalpebral unilateral e indolor e que comumente vem acompanhado por linfadenopatia pré-auricular e submandibular. Pode-se observar febre superior a 39º C, mialgias, astenia, anorexia, cefaléia, e síndromes digestiva, cardíaca e respiratória, que em geral, duram de um a dois meses. Há casos de pacientes sintomáticos que morrem durante a fase aguda.
     Após dois a quatro meses da doença nesta fase, as manifestações clínicas desaparecem e raramente se detecta parasitas no sangue periférico. A doença entra na fase crônica, apresentando, muitas vezes, um longo período de ausência de sinais e sintomas, o qual é denominado de forma indeterminada. Depois desse período de ausência de sintomas, muitos pacientes infectados podem apresentar manifestações envolvendo outros órgãos como o coração, o esôfago e cólon e o sistema nervoso.
     A forma indeterminada é assintomática e os pacientes costumam desfrutar de boa saúde ignorando a doença. A infecção, em geral, é diagnosticada pela sorologia reativa e pelo xenodiagnóstico. É nesta forma que se encontra a maioria dos pacientes na fase crônica de uma área endêmica.
     A cardíaca, cardiopatia chagásica, é a mais importante forma da moléstia devido à morbimortalidade. A doença de Chagas na sua forma crônica se manifesta cardiologicamente com uma ampla diversidade de quadro clínico. Está relacionada à sobrecarga do esforço físico e com a hipertensão arterial e miocardioesclerose. Ultimamente classifica-se as suas formas em: disritmias, insuficiência cardíaca congestiva, síndrome tromboembólica e cardiopatia silenciosa. No grupo de pacientes com arritmia inclui-se a síndrome de Stokes-Adams, com manifestação ou não de perda de consciência ou convulsões.
     Na forma digestiva, os órgãos mais atingidos são o esôfago e o cólon, os quais apresentam destruição das células nervosas do sistema nervoso autônomo.
     O envolvimento do sistema nervoso central é evidente na fase aguda da doença dando origem à meningoencefalite e imunodepressão. Na fase crônica, há controvérsias quanto à complicação  nervosa, se alterações neurológicas como seqüelas de casos agudos ou se encefalopatias crônicas associadas à infecção chagásica, principalmente nos acometimentos infantis. Nos adultos, seria a manifestação da doença em pacientes previamente assintomáticos, que provavelmente tiveram a doença reativada ou pelo HIV ou por transplante de órgãos de pessoas infectadas.  O comprometimento neurológico pode ser inicialmente assintomático, com manifestações neurológicas muitos anos após a infecção.
     Para efeitos práticos, o tratamento desta doença pressupõe uma terapêutica específica (contra o parasita, visando eliminá-lo) e uma sintomática (para atenuação dos sintomas) como pelo uso de cardiotônicos e antiarrítmicos, para o coração, ou através de cirurgias corretivas do esôfago e do cólon.
     Muitos medicamentos foram experimentados contra o trypanosoma cruzi, ao longo de décadas, sem sucesso. Substâncias que se mostravam ativas em outras infecções e doenças tropicais, mostravam-se inócuas contra o trypanosoma de Chagas. O protozoário, ao infectar o homem, abriga-se na intimidade de várias células e mostra capacidade de defender-se contra uma série de compostos químicos e de agentes biológicos. Têm ocorrido avanços substanciais na terapêutica específica da doença e o grande desafio, além da busca de drogas mais eficazes, mais eficientes e com menos efeitos colaterais é o de capacitar profissionais para diagnosticar e tratar a doença.
     A diversidade de quadros clínicos da cardiopatia chagásica, por exemplo, justifica a necessidade do reconhecimento da forma pela qual a enfermidade se apresenta em cada paciente, para uma adequada investigação diagnóstica bem como para a orientação terapêutica.
  
Bibliografia
  DIAS, J.C.P. O tratamento específico da doença de Chagas.  Conferência Nacional de Saúde On-line. [www.datasus.gov.br/cns] Acesso em 06.02.11.

HUEB, M.F.D. Aspectos clínicos, sociais e psicológicos da doença de Chagas. In: Doença de Chagas: indicadores cognitivos, de transtorno orgânico cerebral. USP. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2006. [www.teses.usp.br/teses disponíveis/17/17148/tde-15022007-075707] Acesso em: 06.02.11.

Especializandos: Guilherme de Queiroz Rocha, Annycky Oliveira, Rosiane Bentes, Wagner Rodrigues e Willian Nascimento

Um comentário:

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