Desempenho
de Dois Modelos de Predição Prognóstica em Pacientes Críticos na Unidade de
Tratamento Intensivo Oncológica
Performance of Two Prognostic
Scores in Critically ill Patients in the Oncological Intensive Care Unit
Nádia Gomes Batista dos Santos I, José
Alexandre Pires de Almeida II Daniel Salgado Xavier III
I Pós-graduanda
em Fisioterapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva –
Manaus, AM, Brasil
II Pós-graduando
em Fisioterapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva –
Manaus, AM, Brasil
III Mestre
Fisioterapeuta, Coordenador-chefe do serviço de Fisioterapia da Unidade de
Tratamento Intensivo da FCECON, Manaus , AM, Brasil
Endereço para
correspondência (Correspondence to):
Dr. José
Alexandre Pires de Almeida
Rua Pedrarias de
Avilar, 1003 – Conjunto 31 de Março
Japiim
69077-4500
(92)8178-8906/3237-6872
- Manaus, AM
Resumo
Os
pacientes oncológicos criticamente enfermos geralmente estão propensos à
internação na unidade de terapia intensiva (UTI) e consequentemente apresentam
prognósticos desfavoráveis. A seguinte pesquisa teve como objetivo avaliar os
escores de dois modelos de predição prognóstica (APACHE II e SAPS III) e
discorrer com a comparação direta e paralela de seus resultados, para
observações sobre níveis de discrepâncias entre os escores obtidos de taxa de
morbidade e mortalidade na UTI. Trata-se de um estudo prospectivo realizado na UTI
da Fundação Centro de Controle em Oncologia do Amazonas – FCECON onde foram
incluídos dados nosológicos de 18 pacientes. O prognóstico preditivo APACHE II
evidenciou uma média total de 22,61% de probabilidade para mortalidade sem
discriminação de alta ou óbito, assim como o SAPS III apresentou uma média de
54,33% pelos mesmos critérios de discriminação do modelo anteriormente citado.
Os modelos comparados tiveram uma discriminação irregular que subestimaram a
letalidade na UTI. Quando aplicados aos
pacientes com câncer, os escores de prognóstico gerais apresentam desempenho
insatisfatório, em especial devido à má calibração e tendência à subestimação
da letalidade.
Descritores: Unidade de terapia Intensiva,
APACHE II, SAPS III, oncologia.
Abstract
The
critically ill cancer patients are often prone to admission in the Intensive
Care Unit (ICU) and therefore have an unfavorable diagnosis. The following
research has as a main goal the evaluation of the scores of two prognosis
models (APACHE II and SAPS III) by discoursing and comparing its parallel and
direct results due to a comment on levels of discrepancies between the scores
of morbidity and mortality in the ICU.
This
is a prospective study realized in the Intensive Care Unit at Fundação Centro
de Controle em Oncologia do Amazonas – FCECON (Amazonas’ Cancer Control Center
Foundation) which included nosological data of 18 patients. The predictive
prognostic model APACHE II showed an overall average of 22,61% death
probability without discrimination between discharge or death, as well as the
SAPS III model had an overall average of 54,33% due to the same discrimination
criteria mentioned previously. The compared models had an irregular
discrimination that underestimated mortality in the ICU. When applied due to
cancer patients, the general prognostic scores have poor performance,
especially due to poor calibration and a tendency to underestimation of mortality
Key-words:
Intensive Care Unit, APACHE II, SAPS III, Oncology
Introdução
Os pacientes oncológicos criticamente enfermos geralmente
estão propensos à internação na unidade de terapia intensiva (UTI) e
consequentemente apresentam prognósticos desfavoráveis por conta das inúmeras
disfunções orgânicas que acompanham a doença neoplásica. O conhecimento da
epidemiologia e das características associadas com o prognóstico destes
pacientes depende de fatores multidimensionais (características clínicas e
laboratoriais); como a doença de base, tipos de tratamentos implantados,
imunossupressão e porte da cirurgia. (1,2)
Os diversos modelos de predição prognósticas
desenvolvidos quantificam e reduzem as variáveis relacionadas com o estado do
paciente a um único valor, geralmente, um escore de pontos (3).
Embora não devam ser empregados para a predição de um prognóstico individual,
estes modelos podem ajudar nas discussões clínicas posteriores, melhoria da
alocação de recursos e estratificação de pacientes em estudos clínicos. (1,4)
Portanto este estudo teve por objetivo avaliar os
escores de dois modelos de predição prognóstica (APACHE II E SAPS III) e
discorrer uma comparação direta e paralela de seus resultados, para observações
sobre níveis de possíveis discrepâncias entre os escores obtidos de taxa de
morbidade e mortalidade na UTI.
Metodologia
A seguinte pesquisa foi conduzida no período de
novembro de 2011 a janeiro de 2012, na UTI da Fundação Centro de Controle em
Oncologia do Amazonas – FCECON. Foram incluídos prospectivamente 18 pacientes,
com o preenchimento dos dados solicitados em cada molde prognóstico. Caso
houvesse insuficiência de dados para total preenchimento dos modelos
prognósticos ou o paciente fosse readmitido na UTI seriam automaticamente
excluídos do estudo.
Por tratar-se de um cluster do Ministério da Saúde em parceria com o Hospital do
Coração de São Paulo, as inferências de dados já foram previamente autorizadas
pela Fundação na qual o estudo foi aplicado. A coleta de dados foi realizada
pelos fisioterapeutas participantes do estudo após óbito ou alta viva dos
pacientes.
O modelo APACHE II é um dos mais utilizados no
mundo, e foi desenvolvido para pacientes críticos na idade adulta. No presente
estudo foi utilizado o modelo modificado pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
– SOBRATI, o qual é composto de quatorze itens, vindo a fornecer um nível
provável de óbitos de acordo com os dados clínicos colhidos e exames
laboratoriais.(4,5,6) O índice prognóstico SAPS III (Escore
fisiológico agudo simplificado) tem como função a mesma do APACHE II, porém
apresenta três categorias subdivididas em vinte itens, ambos utilizam um
sistema de pontos que fornecem automaticamente um resultado conjugado em
porcentagem. (6)
Resultados
De acordo com os dados obtidos e a partir da seleção
dos dezoito pacientes que preencheram os critérios de inclusão no estudo,
podemos observar (tabela 01) que 72,22% são do sexo masculino e 27,77% são do
sexo feminino com média total de idade de 53,88 anos, permanecendo por um
período médio de 5,38 dias na UTI. A taxa de letalidade na unidade foi de
22,22%.
O prognóstico preditivo APACHE II
evidenciou uma média total de 22,61% de probabilidade para mortalidade sem
discriminação de alta ou óbito, assim como o SAPS III apresentou uma média de
54,33% pelos mesmos critérios de discriminação do modelo anteriormente citado.
Em análise comparativa entre altas e
óbitos, dos índices preditivos, destacamos a probabilidade de óbito no modelo
APACHE II, para pacientes que obtiveram alta clínica, de 15,07% e para
pacientes que foram a óbito de 49%. Para o modelo SAPS III foram observados
22,68%, para pacientes que obtiveram alta, e 52,73% para óbitos.
Característica
|
Total
|
Altas
|
Óbitos
|
Total de pacientes
|
18
(100%)
|
14
(77,77%)
|
4
(22,22%)
|
Sexo Masculino (%)
|
72,22%
|
76,92%
|
23,07%
|
Sexo Feminino (%)
|
27,77%
|
80%
|
20%
|
Média de Idade (anos)
|
53,88
|
57,14
|
42,85
|
Score APACHE II
|
17,27
|
15.14
|
24,75
|
Mortalidade APACHE II (%)
|
22,61%
|
15,07%
|
49%
|
Score SAPS III
|
29,13
|
47,07
|
69
|
Mortalidade SAPS III (%)
|
54,33%
|
22,68%
|
52,73%
|
Dias de internação na UTI
(dias)
|
5,38
|
3,07
|
13,5
|
Tabela
01. Características demográficas e clínicas. (n =18)
O resultado da análise entre os dois modelos pode
ser observados nas figuras 01 e 02, onde é notável que, para a maioria dos
pacientes, o índice SAPS III apresentou maiores porcentagens e escores para o
risco de óbito.
Figura
01. Porcentagem de risco de letalidade dos dois modelos preditivos utilizados
(APACHE
II e SAPS III)
Figura
02. Escores de risco de letalidade dos dois modelos preditivos utilizados
(APACHE
II e SAPS III)
Discussão
Alguns estudos mostraram que o paciente oncológico
crítico está apresentando uma sobrevida cada vez mais elevada e com melhores
prognósticos. (1,8) O
desempenho dos modelos prognósticos abrange duas medidas objetivas: calibração e discriminação, referindo-se a
proximidade quanto às probabilidades de letalidade correlacionadas aos óbitos
observados no intervalo das probabilidades. A
discriminação aponta, entre os indivíduos analisados, quem poderá evoluir para
uma alta clínica ou para um óbito. Nenhum modelo apresenta calibração perfeita
e uma discriminação exata. (10)
No presente estudo, os modelos comparados tiveram
uma discriminação irregular que subestimaram a letalidade na UTI. Os
prognósticos do SAPS III, para óbitos, foram mais desfavoráveis; apresentando
uma média de percentuais de óbitos de 52,73%, e em contrapartida o APACHE II
apresentou uma média de 49%. Na tabela 01 é observado que o índice preditivo
SAPS III, parece ser mais fidedigno nos casos em que houve a letalidade, porém
a amostra é limitada, não sendo suficiente para a veracidade de tal afirmação.
Quando aplicados aos pacientes
com câncer, os escores de prognóstico gerais apresentam desempenho
insatisfatório, em especial devido à má calibração e tendência à subestimação
da letalidade. (9)
Considerações
finais
A mensuração do prognóstico de
letalidade, pode ser util para enriquecer discussões sobre os modelos e
identificar a gravidade de pacientes oncológicos em estudos clínicos.
Concluimos que, neste grupo de
pacientes o SAPS III foi mais fidedigno nos casos em que houve letalidade e
apresentou melhor discriminação.
Referencias
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